Inacabado

04/06/2024

Eu não me considero uma pessoa medrosa.

Na verdade, até segunda-feira eu tinha certeza apenas de um grande medo: palhaços. Eu não sei por que, mas até mesmo as pessoas que se fantasiam – e com isso entenda colocam perucas e o nariz vermelho – para vender balinha no semáforo ou ônibus me assusta.

Não é nem medo a palavra certa nesse caso, é mais pavor mesmo.

Entretanto, acho que depois de quarta-feira pela manhã eu adquiri um medo ainda maior do que palhaços: medo de ter uma história inacabada. E eu não estou falando de um texto que eu possa escrever ou uma matéria que ficou pelo caminho, eu estou me referindo a uma vida inacabada.

Me parece aterrorizante saber que a vida pode acabar de uma maneira tão de repente e eu simplesmente deixar a minha história inacabada. Sei que na realidade não existem apenas finais felizes, sei muito bem que o mundo aonde todos foram felizes para sempre apenas existe em livros de criança, mas eu acredito que todos merecem ao menos viver por completo o melhor capítulo.

E isso não tem a ver com idade ou com grandes feitos, muitas vezes uma pessoa pode viver 10, 25, 100 anos e ainda não ter chegado no melhor capítulo da sua vida. Me parece injusto a vida de alguém acabar antes disso.

Sei que isso é um fato universal que nessa vida aqui teremos muitas aflições, problemas, dias ruins e dias piores ainda e que muitas vezes esses dias podem ser semanas, que podem ser anos e tenho plena convicção de que tudo isso é necessário para a história de cada um.

É que o final nem é a parte mais importante da história.

O problema é que desde quarta-feira eu fico me questionando se aquela história ficou inacabada. Se simplesmente tudo acabou e o melhor capítulo nem tinha chegado ainda. Por mais que todos nós tenhamos consciência que a vida não é um morango, no fundo a gente sempre espera pelo melhor, pelo futuro.

Nascemos, crescemos, encontramos o amor, vivemos ele por inteiro, colhemos o fruto e bem velhinhos nos despedimos disso tudo. Um ciclo completo, uma vida completa.

E se o mais importante da história é o seu desenvolvimento, quais foram as marcas pelo caminho que ele deixou? Que eu deixei? Fico me questionando se a minha história acabasse hoje pelo que eu seria lembrada.

Por risadas e espirros escandalosos? Pelas minhas Coca-Cola? Por algo que eu fiz ou que deixei de fazer? Quem sabe até por algum texto que eu escrevi.

Marcos não tem nada a ver com o tempo, talvez por isso eu torço tanto para que tenha sido o suficiente, torço para que aquela história tenha tido todos os pontos, todas as virgulas, todos os acentos que precisava. Torço para que não tenha acabado no pior capítulo, torço para que não tenha ficado inacabada como esse texto.  

Para ver o video, clique aqui.

Por: Ana Silva

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